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Muro na Rua Rozbrat 32

Dedicatória: Salete Maria da Chiamulera, pianista brasileira

Senhora, estes projeteis continuam aqui tocando Chopin para mim
balas de empolgação e angústia
Senhora, para cá veio contigo tanta emoção
Por estes projeteis – o Brasil distante! A Salete – próxima
Salete! Mas você ainda nunca foi amada!
Curitiba da Astarte – Assessoria – por que você a deixou?
pela Polônia? por um Polonês?
Salete Maria la Chiamulera....

a corda rompeu-se, as letras se espalharam no teclado
a corda pelegrina
mas, Salete – na história nada muda?
- as salvas de risos atrás das costas de alguém?
as salvas na estante do maestro, na partitura
e com seus dedos tocam os muros baleados de Rozbrat
(uma pessoa com história) – na história nada muda?
Tocam Chopin; falar piano? Ah, sim entendo, a Senhora está chorando
e nós aqui, na Polônia, na cidade capital um dia assassinada por seus vizinhos
em Varsóvia – nós aqui não conhecemos o choro
em nossos ouvidos ainda ressoa a canção daqueles
que alcançaram os portões dos céus com o piano sem teclado
(já arrebentado...) – apontando seus dentes
das trevas, numa marca deixada por bala no muro – uma flor aparece
fixada a parede com uma massinha para que não caísse
nas calçadas – em baixo das quais - as outras Marias, Maria Teresa Chuchla
a mensageira com seus cabelos jogados ao vento protege das balas
o distrito Powiśle, Czerniaków, Żoliborz...
o distrito Wola caiu; já incapazes de amar estão os dedos
que carregaram uma carabina (de geração ultrapassada);
curvado acima dos ruídos das barricadas em armadura arrebentada
seguro em meu punho as cinzas de Tróia ou do Herculanum
eu mesmo não sei qual foi o vento que as trouxe
nem sei que mundo é esse, e você, Maria Salete, você....
não tem medo? Você não sonha com as nossas mães executadas
de madrugada, com os lenços perfurados com lágrimas da história...
em glória inesquecível,
em pequeno nó amarradas
Salete! eu conheço somente a música das carícias das balas
querida, e como! toque
toque para nós no piano brasileiro!
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